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Para quem gosta de ler e ouvir música:

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A Torre Vermelha

Foto do escritor: J. V. A. J. V. A.

Atualizado: 29 de mai. de 2024

Capítulo Cinco


No pé de uma colina verdejante, repousava um menino. Deitado sobre a grama, dormia um sono tranquilo enquanto uma brisa suave remexia seus cabelos brancos como a neve. Não contente em tocar apenas o menino, o vento soprava e espalhava-se ao redor fazendo a relva alta e algumas poucas flores silvestres farfalhar em um sublime som do campo. Ao leste, corria um rio acelerado, acompanhado por frondosas e frutíferas árvores, que uniam-se a harmonia sensorial com seus aromas de úmido frescor. O menino, sobre o leito campestre, não era um contribuinte desse cenário de agradável bucolismo e embora adormecido, saboreava em seu interior essa doce consonância. Em questão, o menino que ali jazia era Edgar. Como ele tinha chegado lá? Nem ele sabe e penso que nem se importava muito em saber. Seu sono era profundo e proveitoso e o ambiente, confortável e aconchegante para ele. Era como se tudo ao redor culminasse em seu tão desejado descanso. Contudo, é sempre necessário acordar.

O orvalho da manhã já elevava-se em sereno. O céu, antes escuro e profundo, agora, lentamente, enrubescia envergonhado enquanto os os primeiros raios de sol pairavam sobre a colina. Não demorou muito e as luzes matinais alcançaram Edgar, como mãos gentis tocando seus olhos pedindo para que acordasse. Pois bem, ele aceitou. Vagarosamente, começou a levantar-se, mas ainda de olhos fechados, apegando-se a seus últimos momentos de repouso. Ele bocejou, alongou-se e sacudiu a cabeça, somente para então abrir os olhos, milímetro a milímetro. Sem muito tempo de contemplação, sua vista nubla-se das remelas e lágrimas. Edgar esfrega os olhos e a primeira coisa que enxerga é o sol. Grande, brilhante, imponente e de cor vermelho fogo, mas estranhamente próximo, como se pudesse tocá-lo. Por algum motivo, essa sensação lhe trazia uma forte sentimento de paz e alegria. O calor e o esplendor eram tão fortes que mesmo plenamente acordado, Edgar ainda não conseguia abrir os olhos com facilidade - o que lhe era motivo de risada.

Quando finalmente foi capaz olhar adiante, notou que a paisagem começou a escurecer. Não era a tarde chegando, eram nuvens, negras e densas, que reuniam-se anormalmente diante do sol. Como ávidos vermes tentando digerir um corpo em decomposição, as nuvens juntavam-se tentando obstruir a sua luz. De repente, a colina florida secou até torna-se um pico rochoso. A relva e as flores ao redor murcharam e desapareceram deixando apenas pedras e areia. Da sequidão, fendas abriram-se na terra formando de pequenas rachaduras no solo até repentinas ravinas. Agora, diante de Edgar, não estava mais o astro imponente e esplendoroso, mas sim uma cadeia de montanhas secas e vazias sob um céu eclipsado. Os lábios e os joelhos de Edgar começaram tremer. Lágrimas de angustia tomaram seus olhos que não sabiam nem o que fazer, nem por que sentia-se assim. Não havia força em seus braços e seus pés. Ele estava paralisado, perplexo, apavorado, deprimido. Não conseguia compreender como um cenário tão vivo e confortável tornou-se como um campo desolado como se pela guerra e o desastre. Mil pensamentos vinham sobre a sua cabeça e cada um deles retorcia ainda mais o seu coração, Não havia nada que ele pudesse fazer? não que o houvesse algo para ser feito, mas o pesar e a culpa - que ele não encontrava razão clara para ter, mas sentia de igual forma - em seu coração eram tamanhos que ele ansiava por fazer fazer algo. Algo para restaurar aquele local. Algo para salvar a paisagem, a vida, a beleza. Aquilo que ele mais amava naquele lugar.

Então seus olhos perdidos encontraram algum descanso. Ao longe, no pico mais alto da cordilheira circundante, avistou uma das montanhas que havia vegetação. Árvores estiradas e amontoadas como pelos sobre o queixo de um homem, flores coloridas que pintavam pontualmente a paisagem como marcações feita a caneta e ainda Edgar era capaz de ouvir um eco como o de gorjear de pássaros alegres. Ele alegrou-se com eles. No topo da montanha verde, residia uma torre, construída em rubros tijolos. Ela não era imponente como uma fortaleza duramente guardada, nem tinha um aspecto nobre ou luxuoso de um castelo. A sensação que ela passava era de um lugar modesto, mas confortável, seguro de todas as confusões do restante da paisagem. Edgar, ao avistá-la, sentiu-se ainda mais consolado. Era ali o seu refugio, onde poderia se resguardar de toda a angustia e sequidão. Ele contemplou deleitosamente para a torre e desejou alcançá-la. Num piscar de olhos, ele estava a frente dela, face a face com sua porta de entrada. Satisfação encheu completamente o seu coração. Logo, sorridente, ele esforçou-se para dar o primeiro passo, mas suas pernas estavam presas.

Em seguida, para o pânico de sua alma, a torre incendiou-se. Desesperado, ele tentou se mexer. Sacudiu-se, contorceu-se, tentou até mesmo puxar-se para frente, mas nada adiantava. Quer para fugir, quer para tentar apagar o fogo, ele não conseguia sair do lugar. Ainda inconformado com sua inaptidão, ouviu estalos e trincados. Era a madeira queimando e os blocos cerâmicos quebrando. A satisfação de outrora converteu-se em profundo lamento, trazendo-lhe a tona um pranto mudo. Em pouco tempo, a estrutura começou a ruir. No meio do colapso, Edgar permanecia imóvel, paralisado como estátua. Seu semblante estava arrasado, coberto de lágrimas que escorriam pelo queixo e o pescoço. Divagando, ele pensou ouvir um grito de dentro da torre. Culpa e remorso encheram-lhe a alma. Ele fechou os olhos tentando apagar a visão diante de si. Nesse momento, o fogo ficou mais intenso e o calor que lhe chegava face era insuportável. Em silêncio, ele só pedia para que aquilo acabasse de uma vez. Em seguida, Edgar ouviu os últimos blocos caírem. O calor dissipou-se e ele sentiu as pernas amolecerem até cair. Um queda longa como se a própria montanha tivesse desaparecido. Nesse momento, ele ouviu um eco, como de uma voz, dizendo: “Não tenha medo, eu estou contigo”.


 

Quando Edgar voltou a sentir o chão, não estava mais nem na colina, nem na montanha. Ele abriu os olhos em sobressalto e se levantou violentamente para ver aonde estava.


- Ei, ei! Calma! Não tenha medo - Disse gentilmente uma menina, sentada próxima aos seus pés. Ela foi até ele e gentilmente o ajudou a sentar.


Olhando para os lados, Edgar não viu sombra de fortaleza, montanha, céu negro ou fogo. Apenas grades azuis, bancos da mesma cor e um chão de concreto aparente. Era dia, embora mais para tarde. O céu estava limpo com alguns filetes de nuvem e uma boa brisa. Ele estava no colégio.




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