Capítulo Um
Era de manhã. As cortinas balançavam e corria uma brisa quente e agitada. Os pássaros cantavam uma linda melodia, um gorjear tão belo e suave que dava até sono. Contudo, ela foi repentinamente interrompida por um berro feminino:
- Eddie!! Você viu a minha camisa?! – Gritava uma menina ruiva que tirava, olhava e jogava para longe milhares de camisetas e camisas de um largo guarda-roupa bagunçado.
- Qual delas, Sofia? Por acaso, não seria nenhuma dos milhares em cima da sua cama? – Questionava um menino sonolento que, lentamente, destapava-se e colocava-se de pé.
- Não! Eu estou procurando a vermelha xadrez.
- Aquela que você colocou para lavar ontem?
- Eu coloquei?
- Humf! Eu disse para você deixar sua roupa a vista, Sofia. Mas não quis me ouvir... - Retrucou Edgar enquanto dirigia-se para a ponta de sua cama onde estavam, empilhadas, uma camiseta preta e uma calça. Ele as vestiu rapidamente e, em seguida, colocou um objeto nas costas.
- O quê?! Você vai levar a espada da mamãe para o primeiro dia de aula?! – Afirmou Sofia surpresa.
- Ah, isso? Eu estou levando-a para me inscrever no time de Kendo do colégio.
- Entendo, mas nada de sacar essa espada em público, okay?!
- Sofia, relaxa! Vai dar tudo certo. Não é porque eu estou segurando uma espada que os outros terão medo de você. Além do mais, você é bem carismática, vai fazer amigos de pressa.
- Ser carismática é uma coisa, ter que desfazer o mal-entendido que o seu irmão causou é outra coisa.
-Tá bom, tá bom. Chega de papo. Vamos rápido, antes que mamãe nos xingue.
Então Edgar e Sofia terminaram de se arrumar e foram em direção a cozinha. Quando chegaram lá, duas mulheres estavam sentadas tomando café, uma de frente para a outra. A que olhava para os irmãos tinha um longo cabelo rosado, seu rosto era esbelto e, em sua face, havia uma expressão de seriedade, era como se falasse diretamente ao coração da dupla: "vocês estão atrasados!". Já a outra mulher, que estava de costas para os gêmeos, virou-se rapidamente para recebe-los. Ela tinha um cabelo arroxeado amarrado em um rabo de cavalo e era mais jovem se comparada com outra.
- Mana Esther! - Gritaram os irmãos correndo em direção a jovem.
- Ah! Que saudade eu estava de vocês! - Respondeu ela em um abraço.
- Por que não nos avisaram que a mana Esther ia tomar café com a gente? Nós teríamos levantado mais cedo para recebe-la – Disse Sofia.
- Então... - Tentou responder a mulher de cabelo rosado.
- A mamãe se esqueceu, simples assim – falou Esther.
- Não reclame da sua mãe, a memória dela não é mais a mesma a pesar da idade – falou um homem que segurava duas canecas nas mãos e ia em direção a mesa do café. Ele era alto, tinha uma barba grossa e castanha; seus olhos eram azuis, claros como a água.
- Papai, você também esqueceu, não é?
O homem riu e concordou.
- Então o que temos para o café? – Perguntou Edgar enquanto o papai colocava as canecas na mesa.
- Torradas, frutas e eu acho que sobrou um pouco de leite na geladeira – Respondeu o pai enquanto se dirigia a geladeira para confirmar sua hipótese.
- Mas então Esther, como foi de viagem? - Sua mãe perguntou.
- Foi ótimo! A universidade é maravilhosa. O ensino lá é bem rígido, mas é recompensador. O campus é lindo, digo, em infraestrutura e recursos, mas mais belo que ele só a paisagem que o cercava.
- Tá, mas e Kinnited, como é o país? - Indagou Sofia.
- Bem, eu não tive tempo para ver o país inteiro, afinal eu fiquei só um ano. Era a minha especialização, então você sabe como é. Longos dias dentro de uma biblioteca, outros na quadra de testes, provas duras a cada mês. O tempo que eu tive de sobra só me permitiu ver a cidade universitária e um pouco da capital.
- E então?!
- Do que vi, Kinnited é maravilhosa. Tenho 80% de certeza que você ia amar - Esther bebeu um gole de café e continuou - Mas e vocês fiquei sabendo que estão indo para o Colégio Shaddai, vocês ja sabem onde ele fica? o papai mostrou?
- Sim, fomos lá no dia da matricula. O papai nos apresentou a escola - Respondeu Edgar.
- É verdade. Ela é muito grande e tecnológica, digna do título de "melhor escola de ensino potencial" o único problema é que fica do outro lado da cidade - Sofia acrescentou.
- Ah, nada como uma bela caminhada
- Só você consegue ver assim, Eddie. 40 minutos caminhando mata qualquer um.
- Mas, nós estamos a correr muito mais do que isso. 40 minutos vai ser moleza!
- Moleza? Eu quase desmaio perto dos 20.
- Isso é porque você corre feito uma condena nos primeiros minutos, depois não tem energia pra nada. Deveria aprender a manter o ritmo e não gastar tudo direto no inicio. Isso vale pra lutas também.
- Falando em lutas, eu já contei pra vocês dos anos dourados da mamãe? - Falou Esther mudando de assunto - Vocês dois tinham que ver! Quando a mamãe era mais nova manuseava uma espada tão bem quanto ela cozinha hoje.
- Não tão bem quanto o seu pai – Remendava a mãe enquanto dava uma mordida numa torrada com mel.
- Mesmo assim, era impressionante. Ela venceu grandes campeonatos regionais, conseguiu o segundo lugar torneio nacional três vezes, o terceiro nas Olimpíadas de Espada e a quase participou da Batalha dos tronos; ainda, se tudo isso não bastasse, ela ficou dentro das semifinais do torneio O'men.
- Do torneio O'men?! - Gritaram os gêmeos em coro.
-Foi sim, mas eu tinha a idade de vocês. Na verdade, um pouco mais velha, eu acho. Mas, é fato o que a Esther diz – Confirmou a mãe.
- Nossa! - Vibravam os irmãos maravilhados
Extasiados, Sofia e Edgar faziam mil perguntas. "Quanto tempo você treinava?", "O vovô e a vovó, te forçavam a praticar ou você fazia por vontade própria?", "Como foi a experiência de estar em um torneio O'men?", "Você já lutou alguma vez com o papai? Quem venceu?". Os irmãos tratavam sua mãe como uma celebridade. Enquanto isso, ela respondia, um tanto envergonhada, cada pergunta com um sim ou um não. As vezes, ela dava algumas informações extras, mas evitava dar detalhes sobre sua mocidade. Depois de certo tempo, Esther tentou cortar o assunto:
- Ei, repórteres! Deixem a mãe tomar café! Além do mais, vocês estão cuidando a hora? - Um arrepio subiu pela espinha.
Quando Edgar e Sofia olharam para o relógio, seu coração disparou. Faltavam menos de meia hora para o início das aulas. Eles engoliram a seco as torradas que comiam, pegaram suas mochilas e pularem pela janela.
- Obrigado pelo café! - Gritaram enquanto caiam.
Eles aterrissaram em cima de um pedregulho e então chegaram ao chão. Eles correram pelo curto jardim de frente de sua casa, dirigiram-se a meio da rua e então começaram a se alongar.
- Vai ser uma corrida e tanto! Espero que seja divertido - Dizia Edgar
- Tem razão, faz tempo que não usamos o potencial fora do treino – Sofia concordou.
Então, uma dispositivo triangular começou a reluzir no braço esquerdo da irmã e no direito do irmão. De repente, traços avermelhados começaram a surgir nas pernas do par. Eles se agacharam por um instante e depois retornaram. Em seguida, duas chamas apareceram atrás dos ombros de Sofia e um vento agitado começou a espalhar o pó ao redor de Edgar.
- Preparada? - Questionou Edgar.
- Preparada! - Sofia confirmou.
Logo, os irmãos deram seus primeiros passos e começaram a correr. Quando bem acelerados, o vento e fogo intensificaram-se. De repente, um estrondo. Duas árvores foram levantadas e algumas de suas folhas queimaram. Agora, os gêmeos estavam disparados em direção ao novo colégio.
Eles ultrapassaram dezenas de carros quando pegaram a autopista e quase destruíram um prédio durante uma curva fechada. Ao chegarem no meio do caminho – em cima de uma ponte que cruzava um raso riacho – Sofia resolveu desacelerar. Já tinham poupado metade do tempo, correr mais devagar não iria mais atrasa-los. Contudo, Edgar resolveu fazer graça. Enquanto sua irmã diminui a velocidade, ele foi ao máximo. Um estouro de ar o jogou para frente e, igualmente, lançou Sofia para fora da ponte.
- SEU IDIOTA! OLHA O QUE VOCÊ FEZ! EU VOU ACABAR COM A SUA RAÇA! – Gritava Sofia, violentamente, tentando levantar-se do solo molhado e lamacento. Edgar ouviu uma explosão, mas não viu sua irmã se aproximar, logo, continuou correndo na mesma velocidade até chegar na escadaria da frente do colégio, onde um menino loiro o aguardava.
- Atrasado no primeiro dia, Eddie?! – Perguntou o menino.
- Fique quieto porque você também está, senhor James – Respondeu Edgar.
- Fique sabendo que os Pendragon precisam dormir bastante para permanecer com essa beleza toda.
- Ah, nem vem com essa! Nem a mamãe dorme tanto assim, e eu aposto que o tio Arthur menos ainda.
- Bom, que seja! A verdade é que o papai saiu mais cedo hoje por causa de uma reunião. Por causa disso quem teve o trabalho de me acordar foi a Miriam, mas você sabe como ela é gentil de mais – James parou, olhou ao redor - Falando nisso, onde a Sofi está?
- Ela já deve estar chegando.
Então, uma nuvem de fumaça começou a aproximar-se. Por onde ela passava, a vegetação queimava, os vidros dos prédios distorciam e o metal dos postes fundiam. Logo, de dentro do fumo, saiu Sofia com os cabelos bagunçados, as roupas amarrotadas e enlameada de cima a baixo.
- EDGAR PENDRAGON SAKIMA, VOCÊ JÁ ERA! – Falava Sofia com uma voz assustadoramente grave.
- Calma, Sofi! Era só uma brincadeira – Edgar tentou justificar-se, mas ela continuava a aproximar-se de maneira hostil.
- O que foi que você fez? - Perguntou James despreocupado.
- Joguei ela no riacho.
- Deve ter sido engraçado!
- Foi mesmo! Tinha que ver a cara dela.
Agora, Sofia estava a meio metro de Edgar. Ela preparou-se para soca-lo quando, de repente, um ventou forte sobrou tanto a fumaça quanto o fogo e ainda empurrou a menina para trás. Então, ouviu-se uma estranha risada.
- Um provocativo e uma cabeça quente, parece eu e seu pai quando tínhamos a idade de vocês. Bons tempos... - Disse uma mulher risonha dirigindo-se a Edgar e Sofia.
- Oi, mãe! – Disse James.
- Bom-dia, tia Emily! Como a senhora está? – Acompanharam os gêmeos.
- Muito bem, obrigado – Respondeu Emily. Então Edgar se aproximou e perguntou:
- Se a senhora está aqui quer dizer você é que vai dar as aulas de Kendo, não é?
-Na verdade eu estou liderando o time de Kendo. Espero ver você lá, hein!
- Estarei lá!
No instante seguinte, o sino de entrada soou. Era o início do primeiro dia de aula.

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