Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores e que sabe o que é padecer [...] (Isaías 53:3)
Será que já existiu outro ao longo de nossa história que recebeu este título? Será que é um reconhecimento digno? É algo bom a se falar de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo?
Esse é um assunto maravilhoso e de grande importância para nossas vidas, afinal, “Ele foi traspassado por causa das nossas transgressões e esmagado por causa das nossas iniquidades” (Isaías 53:5). Eu já passei por muitas dores, e certamente você, caro leitor, também já teve que suportar os sofrimentos desse mundo. Portanto, nós podemos ler as Escrituras e nos identificar com um pouco das dores de Jesus.
Talvez seja difícil compreender como Deus sofreu. O Provedor sentia fome? O Médico dos médicos ficava enfermo? Aquele que nos dá força se esgotava? A fonte da vida passou pela morte? Para as muitas outras perguntas semelhantes a resposta certamente é "sim". Jesus Cristo “que, mesmo existindo na forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus algo que deveria ser retido a qualquer custo. Pelo contrário, ele se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos seres humanos. E, reconhecido em figura humana, ele se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Filipenses 2:6-11).
Jesus era verdadeiramente homem, assim como você e eu. Teve Suas fragilidades, assim como nós. Teve Seus momentos bons e Seus momentos ruins também.
Vamos observar algumas das dores que nosso Senhor passou:
TENTAÇÃO: “Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo” (Lucas 4:1-2). Vemos claramente que Jesus lutou assim como nós lutamos contra as tentações do diabo. Ao longo do Evangelho é possível ler várias vezes em que nosso Senhor foi tentado, principalmente em relação a Sua morte. Como diz o escritor de Cristianismo Puro e Simples, C. S. Lewis, "Só descobrimos a força do impulso maligno quando tentamos lutar contra ele; e Cristo, por ter sido o único homem que nunca cedeu à tentação, também é o único homem que conhece o que significa realmente ser tentado — ele o mais realista de todos".
POBREZA: Imagine estar em comunhão plena com Deus, desfrutando de todas as belezas celestiais, porém, por amor, abrir mão de tudo. “Pois vocês conhecem a graça do nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que, por meio da pobreza dele, vocês se tornassem ricos” (2Coríntios 8:9).
CANSAÇO: Muitos de nós podemos chegar em casa, após um longo dia de trabalho e descansar, contudo, a vida e ministério de Jesus não foi assim. “As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mateus 8:20). A missão de Jesus não era fácil. Ensinar a verdade sobre Deus, curar, viajar longas distâncias a pé ou, em alguns momentos, a barco e cuidar de 12 discípulos totalmente diferentes uns dos outros. E ainda achar tempo para orar. Ele sabia o que era a dor da exaustão, estar totalmente esgotado social, emocional, física e espiritualmente. Certamente, não foi uma sensação agradável.
ENFERMIDADE: Não há registros nos evangelhos no qual Jesus tenha ficado enfermo, todavia, sendo humano, ele estava sujeito a essa condição. Além do mais, se não bastasse a possibilidade de ficar doente, “Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o considerávamos como aflito, ferido de Deus e oprimido” (Isaías 53:4).
PERSEGUIÇÃO: Você já se sentiu perseguido? Com medo de ir para algum lugar sabendo que seria oprimido? Deve ser uma dor apavorante. Jesus espalhou amor e maravilhas, “Mas os fariseus, [...] conspiravam contra ele, procurando ver como o matariam” (Mateus 12:14). Há muitas outras passagens nos evangelhos que mostram o quanto Jesus foi oprimido pelos líderes religiosos e até mesmo pelo povo. Com certeza, ele sentiu essa dor na pele.
REJEIÇÃO: Quantas vezes procuramos agir com amor e somos rejeitados? Essa decepção é como uma facada em nosso coração. No evangelho segundo Mateus podemos ver uma declaração de Jesus, que quis amar Seu povo, porém, tudo que recebeu foi ódio e aversão: “Jerusalém, Jerusalém! Você mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, mas vocês não quiseram!” (Mateus 23:37).
FOME: “[...] Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome” (Lucas 4:2.) Esse fora um dos momentos - e certamente não o único - em que Jesus teve fome. Contudo, repare: a fome mencionada não era simplesmente aquele desejo por comida, mas aquela ânsia que faz o estômago roncar igual a um motor de trator. Nessa passagem, Jesus estava a 40 dias em jejum. Do ponto de vista cientifico, a partir do ponto em que cessa a alimentação e toda a fonte de energia primária - os carboidratos - é consumida, o corpo passa a se alimentar da gordura corporal. Depois dela, não há nenhuma reserva sadia disponível, logo o corpo passa a se consumir. Proteínas, fibras, tecidos, tudo. A fase seguinte é a inanição, isto é, a falência do corpo pela fraqueza extrema - em poucas palavras, a morte. Considerando a alimentação média do mediterrâneo, isto é, Israel, é assertivo afirmar que a condição em que Jesus estava já era essa penúltima, onde o corpo começa a se consumir. Considere, ainda, o ambiente árido em que ele estava, afinal, "Jesus, [...] foi levado pelo Espírito ao deserto" (Lucas 4:1 - grifo do autor).
LUTO: A dor de perder um próximo é abalador. Nos faz lembrar o quanto nós - e, por extensão, aqueles que amamos - somos vulneráveis. Que a morte é imparcial, não conhece limitações de idade, sexo, status social ou financeiro. Porém, o que pode mais doer, talvez, é saber que aquela pessoa não estará mais conosco. Confortante é reconhecer que até mesmo Jesus já teve que passar por essa dor. Ao retornar à Betânia para ajudar seu amigo a quem amava, Lázaro, ele recebeu a notícia de sua morte. Ele sabia que Lázaro morreria de sua enfermidade. Jesus estava indo para lá justamente para mostrar que ele, Jesus, é a ressureição e a vida, mas isso não o impediu de se emocionar. “Quando Jesus viu que ela chorava, e que os judeus que a acompanhavam também choravam, agitou-se no espírito e se comoveu. E perguntou: 'Onde vocês o puseram?' Eles responderam: 'Senhor, venha ver!' Jesus chorou.” (João 11:33-35). Sobre essa passagem, especificamente o verso 35, o pastor e escritor John MacArthur descreve em seu livro Comentário Bíblico MacArthur: Genesis e Apocalipse verso a verso o seguinte: "A palavra grega tem conotação de explodir silenciosamente em lágrimas, em contraste com o lamento estrondoso do grupo. Suas lágrimas aqui não foram geradas pelo luto, pois ele ressuscitaria Lázaro, mas pelo sofrimento por um mundo caído, enredado na tristeza causada pelo pecado e pela morte". Em poucas palavras, as lágrimas de Jesus não eram meramente por Lázaro, eram por nós. Uma angústia exasperada, explosiva, porém silenciosa, de um criador que não desejou a morte para a sua criação, mas essa caiu sobre ela por causa do pecado e da corrupção.
ANGÚSTIA: Após a terceira ceia de páscoa com os discípulos descrita pelos evangelistas, Jesus vai ao Monte das Oliveiras para orar, entretanto, não foi um momento comum de oração. Ele estava prestes a ser entregue nas mãos dos homens para ser morto, mas não qualquer morte. Morte de cruz. Até os dias de hoje nunca se ouviu falar de um instrumento de tortura mais perverso e doloroso do que a cruz. Cícero, um advogado, escritor e filosofo romano do primeiro século referia-se a cruz como a mais extrema, cruel e angustiante forma de punição. A simples menção dessa palavra "deveria ser removida não apenas da pessoa de um cidadão romano, mas até mesmo de seus pensamentos, olhos e ouvidos...". A gravidade da cruz era bem conhecida pelos judeus e sobretudo por Jesus. Imagine saber, exatamente, que em poucas horas Ele passaria por aquele tormento imensurável. Portando não apenas a sua própria e excruciante dor física e mental, mas também as dores, enfermidades e o pecado de todo o mundo presente e futuro. Como deveria ser o coração de uma pessoa quando ela sabe de tudo isso? “E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o suor dele se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lucas 22:44). Jesus sofreu uma angustia indescritível jamais vista. O coração de Jesus estava sendo espremido, física e emocionalmente. A ansiedade se esgueirava nas sombras ao redor de sua alma. Que em nossos momentos de angústia possamos olhar para Jesus e lembrar: Ele sofreu muito mais, porém, persistiu na oração e na obediência.
TRAIÇÃO: Judas Iscariotes, escolhido por Deus para seguir Jesus Cristo em Seu ministério, não suportou a tentação e deixou o diabo possuir seu coração. Imagino o que se passava na cabeça dele. “[...] Se estiverem de acordo, paguem o meu salário; se não, deixem por isso mesmo. Então pesaram o meu salário: trinta moedas de prata” (Zacarias 11:12). É no mínimo triste saber que Jesus teve que aguentar a dor de ser traído. Contudo, Jesus já estava ciente da falsidade de Judas; na ceia Jesus menciona essa traição, e “Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi falar com os principais sacerdotes. Ele disse: — Quanto me darão para que eu o entregue a vocês? E pagaram-lhe trinta moedas de prata” (Mateus 26:14-15). SOLIDÃO: Os guardas do Sinédrio seguem Judas até o Monte das Oliveiras, com o objetivo de prender Jesus. Alguns discípulos não cederam facilmente, porém, assim como dizem as Escrituras: “[...] Fira o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas” (Zacarias 13:7). "Então todos os discípulos o deixaram e fugiram” (Mateus 26:56). Estiveram eles com Jesus durante três anos, ouviram os ensinamentos de Cristo, desfrutaram de cada milagre. Entretanto, isso não os impediu de abandonar Jesus, e deixar Ele sozinho em seus momentos mais sombrios.
INJUSTIÇA: “E os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum testemunho falso contra Jesus, a fim de o condenarem à morte” (Mateus 26:59). Ser acusado injustamente certamente é uma sensação que deixa nossa alma indignada. Porém, imagina ser Cristo, vir ao mundo para salvar os pecadores, e ser oprimido por mentiras. Ele apenas nos amou, mas foi acusado de blasfemador. Curou as pessoas, porém, alegaram que eram obras demoníacas. Suportar tal coisa não deve ter sido fácil.
DOR FÍSICA: Das inúmeras vezes que Jesus sofreu fisicamente, decidi comentar sobre a flagelação. “Por isso, Pilatos tomou Jesus e mandou açoitá-lo” (João 19:1). Não era um simples açoitamento, os romanos torturavam bestialmente os condenados. Era um show de horrores, um circo de atrocidades. Não estamos falando de meras cordas, mas de chicotes de couro com ferro e osso nas pontas. Não são apenas hematomas, muitas vezes esses instrumentos eram usados com tamanha maestria violenta que eram capazes de rasgar a carne ao pontos de expor os ossos da vítima. Alguns sequer sobreviviam para ser crucificados. Jesus sobreviveu e pouco tempo depois ele estaria carregando ao longo do caminho até o Gólgota, nas mesmas costas flageladas, a trave que o suspenderia na cruz. Ele certamente sabia o que era uma dor alucinante e ainda mais que é era sofrer.
HUMILHAÇÃO: “Os soldados teceram uma coroa de espinhos e a puseram na cabeça de Jesus. Também o vestiram com um manto de púrpura. Chegavam-se a ele e diziam: — Salve, rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas” (João 19:2-3). O Rei dos reis recebeu Sua coroa neste mundo. Mas ela não era de ouro e joias, mas de afiados e lacerantes espinhos, que penetraram profundamente sua cabeça. O Rei dos reis foi "exaltado", mas não com louvores e música, e sim com petulantes zombarias e agressivas bofetadas. Ele foi duramente humilhado, contudo, se manteve firme. A humilhação não foi capaz de enlamear o seu título altíssimo, pelo contrário, "Por isso, Deus o exaltou à mais alta posição
e lhe deu o nome que está acima de todo nome [...]" (Filipenses 2:9).
SEDE: “Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para que se cumprisse a Escritura, disse: — Tenho sede! ” (João 19:28 ). Que situação nosso Senhor se encontrava. Jesus tinha perdido muito sangue, e Suas graves feridas Lhe causaram febre. Seus nervos mais sensíveis estavam rasgados. A tensão extrema de Seu corpo produziu uma hipertermia ardente. A dor secou Sua boca. O Filho de Deus dependeu de Seus executores para matar a sede. “Secou-se o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega ao céu da boca; assim, me deitas no pó da morte” (Salmos 22:15).
MORTE: “Quando Jesus tomou o vinagre, disse: — Está consumado! E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” (João 19:30). A morte é um mistério para nós. Sentimos algo quando morremos? Será que naquele último suspiro tem alguma dor? Após entregar Seu espírito, Jesus morreu. O Salvador enfrentou aquilo que muitos temem. Não só enfrentou a morte, mas a venceu. No terceiro dia, aquele que estava morto ressuscitou.
Jesus é o homem de dores, e Ele sabe o que é padecer. É correto falar isso? Sim! Não só correto como também necessário. Todas Suas chagas. Todas Suas dores. Aquilo que Cristo passou são agora Suas medalhas. Devemos olhar para o furo em Seus pulsos e pés, e louvá-Lo. Nosso Senhor não sabe o que é a derrota. O Homem de dores sabe pelo que você passa. Ele reconhece suas dores. Volte-se ao Homem de dores, Ele sabe como vencer.
Jesus se importa contigo. Ele olha pro seu sofrimento e Se compadece. Aquela dor que você sente, pros outros pode até ser nada, mas para Jesus, é tudo. Alguns podem falar que é drama, exagero ou bobagem, mas Jesus entende. Volte-se ao Homem de dores, Ele é cheio de compaixão.
“Ele conheceu todos os sofrimentos do corpo e da alma. As dores do homem que luta ativamente para obedecer; as dores do homem que se senta calado e passivamente resiste; Ele conheceu as dores dos altivos, pois era o Rei de Israel. Conheceu as dores dos pobres, pois Ele 'não tinha onde reclinar a cabeça'. Dores familiares e dores pessoais, dores emocionais e dores espirituais, dores de todos os tipos e graus vieram sobre Ele” (SPURGEON, Charles; Sermões de Spurgeon sobre cruz de Cristo). Volte-se ao Homem de dores, Ele sabe o que é padecer.
“Quem nos separará do amor de Cristo? Será a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo ou a espada?” (Romanos 8:35)

Dou glória a Deus por cada palavra ministrada no meu coração.
Comments