Você já se sentiu desprezado? Ridicularizado pelas pessoas? Já ouviu pessoas que você tanto ama te humilhar diante dos outros? A vergonha é algo que evitamos ao máximo. Acredito que ninguém simplesmente deseja ser humilhado. Malfeitores e ladrões temem mais o desprezo público que a própria condenação. E é esse o assunto do devocional, vamos seguir a trajetória de Cristo até a cruz. Portanto, caro leitor, seja bem-vindo ao julgamento de Jesus Cristo.
Jesus acabara de orar no Getsêmani, e eis que uma escolta e alguns guardas dos principais sacerdotes e fariseus chegam ao local, juntamente com Judas Iscariotes (João 18:1-3). Jesus sabe que chegou a hora. É o momento de ser entregue nas mãos dos homens. Por mais que Ele esteja tranquilo, isso não evita que seja tratado como um animal. Amarrado e arrastado até Anás, sogro de Caifás (João 18:12-14). E assim começa o julgamento mais fraudulento da história. Já no primeiro questionamento, Jesus é esbofeteado por um dos guardas (João 18:19-24). O desprezo começa a cavar mais fundo. Até onde uma pessoa pode ser pisada?
“Então Anás o enviou, amarrado, à presença de Caifás, o sumo sacerdote” (João 18:24). “E os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum testemunho falso contra Jesus, a fim de o condenarem à morte. E não acharam, apesar de terem sido apresentadas muitas testemunhas falsas [...]” (Mateus 26:59-60). Jesus seguiu sendo interrogado. Diante de todos os relatos mentirosos e distorcidos acerca de sua pessoa e seus ensinos, Ele manteve a compostura e respondeu com autoridade. Nem a acusação mais feroz abalou Seu coração. Antes de seguir a diante, gostaria de separar um tempo para demonstrar a tamanha corrupção desse escândalo que chamaram de "julgamento".
As autoridades judaicas transgrediram as suas próprias leis e atropelaram todas as normas no julgamento de Jesus. Se quer se importaram em disfarçar sua infidelidade. Alguns desses pontos são:
• As leis não permitiam que um prisioneiro fosse interrogado pelo Sinédrio nem à noite, nem no dia antes de um sábado e muito menos antes de uma festa. Nessas condições, todas as sessões eram proibidas;
• Nenhuma pessoa podia ser condenada senão por meio do testemunho de, no mínimo, duas testemunhas idôneas (Deuteronômio 19:15) , mas eles contrataram testemunhas falsas. Se isso não bastasse, somente testemunhas contra o réu foram levantadas. Nem cogitaram ouvir algum tipo de defesa (Marcos 14:56);
• O anúncio de uma pena de morte só podia ser feito um dia depois do processo. Nenhuma condenação podia ser executada no mesmo dia (Marcos 14:64);
• O procedimento adequado era interrogar as testemunhas, e não o réu, de fato, as testemunhas em favor do réu eram ouvidas antes das testemunhas contra ele. Por isso, Jesus diz a Anás: “Por que o senhor está perguntando para mim? Pergunte aos que ouviram o que lhes falei. Eles sabem muito bem o que eu disse” (João 18:21).
Esse julgamento é subversivo. Aqueles que se diziam fieis a lei, discípulos de Moisés, jogaram no lixo todo tipo de lei e moralidade. Contrataram testemunhas falsas. Forçaram o réu a responder. Espancaram e cuspiram no condenado. Vomitaram toda arrogância de forma agressiva. Construíram um palco e fizeram uma paródia de justiça. Que sentimento deve ter passado no coração de Jesus? Para finalizar esse teatro, Jesus é questionado se Ele realmente é o Cristo; temos como resposta o seguinte: “É o senhor mesmo quem está dizendo isso. Mas eu lhes digo que, desde agora, vocês verão o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu” (Mateus 26:64). Com essa resposta, Jesus demonstra seu valor e sua confiança, pois Ele sabia que Sua resposta significava Sua morte. Diante de tanta falsidade, um mantém Sua credibilidade. “Ao romper o dia, todos os principais sacerdotes e os anciãos do povo entraram em conselho contra Jesus, para o matarem; e, amarrando-o, levaram-no e o entregaram ao governador Pilatos” (Mateus 27:1-2).
Jesus foi acusado de blasfêmia diante do Sinédrio. Esta foi a causa de Sua condenação. Entretanto, diante de Pilatos a acusação foi outra. “E ali começaram a acusá-lo, dizendo: — Encontramos este homem pervertendo a nossa nação, impedindo que se pague imposto a César e afirmando ser ele o Cristo, o Rei” (Lucas 23:2). Trataram Jesus como lixo. Como uma pessoa sem direitos. Tentaram pisotear a moralidade de Jesus a todo custo. Por duas vezes foi acusado falsamente, teológica e politicamente. Era o Rei humilhado pelo Seu povo. O Criador rejeitado por Suas criaturas.
Temos conhecimento do interrogatório de Pilatos e Herodes, onde ambos encontram um silêncio magnífico vindo de Jesus. Enquanto Pilatos o admira (Marcos 15:5), Herodes o despreza (Lucas 23:11). Pilatos joga a responsabilidade para Herodes, entretanto, há o desempate e Pilatos tem que decidir. Três momentos marcantes precedem a condenação de Jesus:
• O povo escolhe Barrabás invés de Jesus (Lucas 23:19-25). O inocente teve que ver Seu povo escolhendo inocentar um criminoso. Mesmo diante desse escândalo, Jesus mantém a calma. Em nenhum momento deixou de olhar para o Seu propósito. Enquanto o povo gritava para crucificá-Lo, Ele só deu ouvidos às promessas que estavam estabelecidas;
• A lei afirmava que a máxima punição que um sujeito poderia receber era de 40 chibatas e nunca ultrapassar esse valor (Deuteronômio 25:3), por isso era comum que o castigo fosse "reduzido" a 39 (ou quarenta menos uma). Contudo, Jesus é açoitado brutalmente. Enquanto os Judeus eram comandados a seguirem a risca um número especifico de açoites, os soldados romanos não tinham limites, muito menos deixavam se limitar. A flagelação romana se fazia com correias múltiplas, em cujas tiras estão fixadas pequenos componentes de chumbo e ossos. O chicote castiga as espáduas, costas, rins e também o peito e pernas. Vale lembrar, ainda, que a pele de Jesus já estava sensível por conta da hematidrose, o suor de sangue. A cada golpe o corpo estremece com sobressaltos dolorosos. O sangue se espalha para todo lado. Já não é mais a fria execução de uma ordem jurídica, é um escárnio demoníaco;
• Não bastou o “justo” julgamento. Não bastou o “gentil” serviço dos carrascos. Agora, vem a "gloriosa" coroação do Rei. “Os soldados teceram uma coroa de espinhos e a puseram na cabeça de Jesus. Também o vestiram com um manto de púrpura. Chegavam-se a ele e diziam: — Salve, rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas” (João 19:2-3) - Não é fácil comentar sobre esse cenário, meu coração se aperta só de tentar imaginar. A coroa tem compridos espinhos, muito mais compridos, agudos e firmes que os da acácia. O couro cabeludo derrama sangue sem cessar. Durante a zombaria, Seu pobre e abatido rosto segue imóvel. Aqui está! O Rei com Sua coroa e Seu cetro.
Pilatos apresenta o Rei dos judeus ao povo, e podemos ouvir o clamor reverente e amoroso vindo de suas bocas: “Fora! Fora! Crucifique-o!” (João 19:15) - Nada se compara ao amor de Deus. Nenhuma ação de bondade humana pode sequer raspar a superfície do supremo dom de Deus para conosco. Simplesmente não temos capacidade alguma de ao menos encostar na sola dos pés de algum mérito ao amor de Deus. Depois de sua última tentativa, Pilatos cedeu e mandou Jesus para ser crucificado (João 19:16).
Gostaria de encerrar essa breve narrativa por aqui. Era essencial se aprofundar aos detalhes desse rico cenário. muitas vezes não temos noção sobre o tamanho do desprezo sofrido por Jesus. Para concluir, peço que você me acompanhe em dois pontos magníficos sobre nosso querido Rei.
• O MOTIVO: Qual foi o motivo de tudo isso? Será que foi simplesmente para morrer? O que levou Jesus a suportar tamanho desprezo? Por que entregar-se para ser humilhado pelos homens? “Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, sem se importar com a vergonha, e agora está sentado à direita do trono de Deus” (Hebreus 12:2 ). Que alegria era essa? O real motivo é capaz de derreter uma rocha! A alegria que estava proposta à Jesus era, principalmente, a alegria de salvar a você e a mim! Que tamanho amor! Foi por você que Ele se deixou ser pisoteado. Era o seu nome que ele tinha em mente e seu rosto que Ele tinha diante dos olhos. Jesus faz de tudo para tê-lo ao Seu lado. Jamais merecemos nada de Suas preciosas mãos.
• NOSSO EXEMPLO: Jesus permaneceu firme, calado e com fé diante de todo o mal ao Seu redor. “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca. Como cordeiro foi levado ao matadouro e, como ovelha muda diante dos seus tosquiadores, ele não abriu a boca” (Isaías 53:7). Nós passamos por pequenas complicações diariamente, e nossa primeira atitude é reclamar, rebater, guardar rancor ou se vingar. Temos um exemplo, sejamos mansos assim como Jesus foi. “Se possível, no que depender de vocês, vivam em paz com todas as pessoas” (Romanos 12:18).
Dou glória a Deus por cada palavra ministrada em meu coração.

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